«Vieira foi ao balneário e fez 50% do meu trabalho»: Benfica campeão europeu foi há 15 anos

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25-04-2025 12:02

Parece que foi ontem, mas já passaram exatos 15 anos desde que o Pavilhão Atlântico - hoje MEO Arena - encheu para ver os melhores clubes europeus de futsal, para ver o {TEAM_LINK|4368|Benfica} campeão europeu. O primeiro campeão europeu saído do futsal português, uma barreira quebrada, mas o abrir de portas para anos - felizmente - mais felizes e que trouxeram mais duas conquistas para Portugal, sempre pela mão do {TEAM_LINK|4369|Sporting} (2018/19 e 2020/21). {IMGMED|DIR|893844} No dia 25 de abril, que tanto diz ao povo português, celebra-se a Liberdade e celebra-se o 15.º aniversário da primeira grande conquista europeia do Benfica e do futsal português. Para assinalar a data, quem melhor do que o homem do leme? {COACH_LINK|971|André Lima}, lendário internacional português, foi o treinador responsável por guiar os encarnados à conquista. Parece que foi ontem, mas a UEFA Futsal Cup já é uma adolescente. «Não me lembro de tudo, já passaram 15 anos», contou ao zerozero. Mas as lembranças que ainda o acompanham e continuarão a acompanhar... são ouro. «Lembro-me, principalmente, de estarmos lá em cima a receber a taça, que procurávamos há, pelo menos, dez anos. Lembro-me de olhar lá para baixo e ver uma equipa como o Interviú daquele tempo, que tinha os melhores jogadores brasileiros e os melhores jogadores espanhóis, todos campeões do mundo. Vê-los lá em baixo - só foram embora quando recebemos a taça - foi uma sensação única. Já nos tinham tirado duas e nós é que costumávamos estar lá em baixo. Isso é o que marca mais», acrescentou. «Sentia que a equipa estava no momento certo» André Lima era treinador pelo segundo ano, depois de se ter retirado enquanto jogador. Vencera o campeonato e a Taça de Portugal na primeira época no banco, em 2008/09. No ano seguinte, o Benfica queria dar mais um passo. {CITACAO|ESQ|Não desvalorizem o que se ganhou há 40 ou 50 anos, porque tudo tem um início. As dores de crescimento custaram a muita gente|André Lima} «A direção do Benfica meteu em cima da mesa, como objetivo, ser campeão da Europa. Aliás, eu meti também esse objetivo, porque quando falei com o presidente Luís Filipe Vieira sobre os objetivos do ano seguinte, pedi-lhe o {PLAYER_LINK|30481|Davi} e o {PLAYER_LINK|83522|Joel Queirós}. Eram jogadores muito caros e ele ficou um pouco chocado com o dinheiro que eles ganhavam, o Davi no Sporting e o Joel em Espanha. Disse-lhe que era para ser campeão da Europa», contou-nos o técnico de 53 anos. O argumento de André Lima convenceu o presidente encarnado, mas levou a pressão acrescida. «Ficou uma pressão em cima, mas eu disse que a equipa estava no momento para ser campeã da Europa. Foi uma exigência que fiz a mim mesmo e ao grupo. O grupo sentia que estavam no momento da carreira para o conseguir. Ou era naquele ano, ou não era nunca.» A verdade é que depois da conquista, o Benfica regressou à fase final no ano seguinte e o «agora ou nunca» desfez-se na cabeça de André Lima. Agora à distância, porque tinha saído do clube no final de 2009/10, foi com surpresa que viu as águias falharem a revalidação do título. «Pensei que o Benfica ia ser campeão outra vez em 2010/11. Afinal, não era agora ou nunca. Dava para ser campeão também naquele ano, era uma final four mais acessível do que a que tivemos, mas não correu bem. Aquele grupo de jogadores merecia por tudo o que deram à secção», disse. «'Presidente, não o deixe sair daí sem assinar!'» Voltemos ao dia da final. Antes do jogo começar, o balneário benfiquista tem uma visita especial: Luís Filipe Vieira, o presidente. «Meia hora antes de começar o jogo, estávamos em palestra no balneário, e ele foi lá e fez um excelente trabalho em termos de motivação», começou por nos contar. «Disse que estava muito feliz por tudo o que tínhamos conseguido até ali e que, para ele, já éramos campeões. Encher o Pavilhão Atlântico de benfiquistas e fazê-los acreditar que podíamos ser campeões... Para ele, nós íamos ser campeões, mas mesmo que não fôssemos, para ele já o éramos por tudo o que fizemos para chegar ali. Ajudou muito porque naquele momento, mais do que a parte tática e técnica, a parte mental é mais importante. Fez 50 por cento do meu trabalho», prosseguiu André Lima. O Pavilhão Atlântico apareceu lotado e recheado de benfiquismo, mas não terá sido por aí, na visão do treinador, que o Interviú se tornou mais fácil de domar: «Eles não tinham medo de nada. Estavam numa fase da carreira em que já tinham sido campeões do Mundo por seleções, que já tinham ganho quatro ou cinco Ligas dos Campeões em casa ou fora. Para eles, ter um pavilhão daquela dimensão até é o que precisam. Foi um jogo de igual para igual e nunca mais me esqueço que, no final, alguns jogadores e o treinador disseram que merecíamos ganhar.» {CITACAO|DIR|O Benfica é um clube para jogos grandes. Cheguei a dizer no balneário que os jogadores contratados para o Benfica não são para jogar, com todo o respeito, contra o Zêzere. É para ganhar ao Sporting, ao Interviú e ao Barcelona|André Lima} É que antes da final, houve uma meia-final épica frente ao {TEAM_LINK|10737|Luparense} e que é classificada como o ponto-chave para o sucesso. «O melhor jogo que vi a equipa fazer como treinador foi na meia-final contra o Luparense. No intervalo do jogo, antes de entrar no balneário, disse para o {COACH_LINK|972|Nélito}, que era o meu adjunto: 'Tu estás a ver o jogo que estes rapazes estão a fazer hoje?'. O jogo que estavam a fazer era uma coisa incrível. Foi ali que acreditei que íamos ser campeões da Europa. O jogo foi muito difícil, ficou 8-4, mas foi muito duro. Foi o jogo da vida daqueles jogadores e tive um orgulho imenso de ser o treinador. Senti que era o início para sermos campeões europeus, fosse no Cazaquistão ou em Espanha. Íamos estar preparados, os jogadores estavam na melhor fase.» Curiosamente, a final acaba decidida por um pontapé certeiro de Davi, em tempo de prolongamento. O herói foi um dos 'pedidos caros' do treinador no início da temporada, pelo que o investimento terá certamente compensado. A história, porém, podia ser outra, até porque o brasileiro esteve muito perto de não rumar à Luz. O testemunho de André Lima é fascinante. «O Davi já tinha sido campeão da Europa. Não fazem ideia do esforço que foi feito para o tirar do Sporting. Foi muito difícil, esteve quase para não vir. Foi um dos maiores esforços que fiz. Eu joguei contra o Davi, via ali um craque. O presidente, quando estava a falar com ele, ligou-me para o gabinete a dizer 'André, não dá. Assim não dá'. E eu só lhe disse 'presidente, não o deixe sair daí sem assinar!'. Desligou e voltou a ligar passado uns 20 minutos. Disse 'André, não me metas mais nestas confusões. Ele já assinou'.» {IMGMED|ESQ|893842} Assinou e deu início ao que veio a ser uma caminhada de quatro épocas na Luz. A conquista da UEFA Futsal Cup veio logo no primeiro ano e com esse tal golo no prolongamento. «O Davi foi fulcral naquele jogo. Era um jogador para jogos grandes. De vez em quando, falhava individualmente em jogos menos difíceis, mas era um jogador para os jogos grandes. E o Benfica é um clube para jogos grandes. Cheguei a dizer no balneário que os jogadores contratados para o Benfica não são para jogar, com todo o respeito, contra o Zêzere. É para ganhar ao Sporting, ao Interviú e ao Barcelona. Têm que meter na cabeça que são contratados para jogos grandes», salientou. A terminar, André Lima deixou uma mensagem de apoio ao Sporting para a fase final que se aproxima, em Le Mans. «Espero que sejam campeões da Europa», disse. E apelou ainda para que nunca esqueçam estas conquistas, por mais antigas que se tornem: «Foi ali [UEFA Futsal Cup 09/10], juntando ao Mundial da Guatemala, que houve um clique que acordou a FPF para o futsal. Estivemos sempre nos Europeus e Mundiais, penso que só falhámos um, e a vitória em 2010 foi a parte do 'quase que dá' para o 'dá', porque três ou quatro anos depois foi o Sporting campeão da Europa e Portugal, como seleção, foi campeão da Europa e do Mundo. Não desvalorizem o que se ganhou há 40 ou 50 anos, porque tudo tem um início. As dores de crescimento custaram a muita gente.»