Hóquei em campo do GD Viso tem clã argentino: «Era do Benfica, mas mudei por causa do Alan Varela»
/ Futebol
05-04-2025 18:59

Portugal é, para muitos, um paraíso perdido no Atlântico. Segurança, gastronomia e a arte do bem receber são alguns dos fatores que tornam o território lusitano tão apetecível. Esta poção de encantamento não tem deixado as diferentes comunidades indiferentes, num núcleo que abrange a população sul-americana. O GD Viso encontrou na inclusão de atletas argentinas uma mina de ouro para o sucesso numa modalidade pouco reconhecida: o hóquei em campo. Numa troca de favores bastante benéfica, as próprias atletas encontraram no clube portuense uma forma de voltarem a sentir o cheirinho a casa. Sabendo da gigante influência da respetiva nação no sucesso do futebol português, o zerozero juntou o útil ao agradável, procurando recolher prognósticos para o Clássico do próximo domingo, entre FC Porto e Benfica, bem como dar a conhecer a história curiosa do emblema nortenho. Um bunker contra o pouco reconhecimento Com uma pequena malinha - suficiente para carregar todo o material necessário à gravação -, chegamos, curiosos, ao Campo Sintético do Viso. Enquanto montávamos o respetivo equipamento para otimizar o nosso tempo, Tiago Marques, uma das principais referências da equipa, veio na nossa direção, cumprimentando-nos antes de seguir para o balneário. 20h30. O treino já arrancou. Num lado do campo, a equipa masculina treina os dribles e os passes, numa confusão verdadeiramente ordeira. Já no outro, o conjunto feminino começa a dar múltiplas voltas à sua destinada fação do quintal. Liderando a manada, segue, focada, a capitã Teresa. Todavia, para seu desalento, a comandante acabaria por ser a primeira vítima do nosso microfone azul. Brincadeira. {IMGHALF|DIR|1270076} Com um sorriso no rosto, a jogadora caminhou em direção das luzes intensas, provenientes do nosso posto de iluminação portátil. Questionada sobre a real expressão do hóquei em campo em Portugal, Teresa pautou pela honestidade, mostrando-se pouco satisfeita com a valorização desta vertente desportiva. «Eu gostava de dizer que o hóquei em campo é uma modalidade em desenvolvimento em Portugal, mas não é bem o caso. Apesar de estar a existir trabalho nesse sentido, sobretudo nas camadas jovens, a expressão é muito diminuta face ao que nós [jogadoras] achamos que poderia ser. Quando olhamos para outros países, o hóquei é bastante praticado. Basta ver o exemplo das nossas colegas argentinas, que cresciam a jogar isto na escola», referiu, numa primeira instância. Teresa referiu, ainda, que as intervenientes da América do Sul vieram ajudar na evolução da respetiva prática em Portugal: «Elas vieram acrescentar muito ao nosso nível competitivo. O hóquei português é caracterizado por picos bastante diferentes. A verdade é que muitas atletas, quando chegam à fase adulta, tendem a desistir, muito por culpa da falta de provas. É algo que leva a uma diminuição tremenda dos índices de qualidade», acrescentou. «Aqui competem quatro equipas, mas na província onde eu cresci participam 20 clubes» Já Camila, desde tenra idade, foi ensinada a amar o stick, em Corrientes. A nossa segunda entrevistada, profunda conhecedora dos dois paradigmas, corroborou a opinião da companheira: «Aqui, competem, apenas, três ou quatro equipas, enquanto na província onde eu cresci, participam entre 18 a 20 clubes. É uma diferença muito significativa.»{IMGMED|DIR|1270082} No entanto, o panorama mais rudimentar não é um travão à vontade das hoquistas de continuarem a usufruir da sua paixão. Que o diga Valentina: «Jogo desde que tenho oito anos. Cresci a praticar hóquei no River Plate. Quando cheguei a Portugal, fui logo tentar arranjar um local para continuar a fazer o que gosto. Na Argentina, este desporto pratica-se quase tanto como o futebol.» Mas como é que uma pequena formação da Invicta se tornou este bonito ponto de abrigo e de convívio? Era esta a questão que não queria calar. Bem, as diferentes respostas, apesar das ligeiras variações, têm um denominador comum: o poder das plataformas digitais. «Eu conheci o clube através do Instagram. Quando cheguei aqui estava, apenas, uma argentina, mas, com o decorrer do tempo, o núcleo foi se alargando. Numa primeira fase, vivi em Albufeira, mas foi a necessidade de querer voltar a jogar que me trouxe até ao Porto, mais precisamente ao GD Viso.» FC Porto ou Benfica? Influências definem escolhas No Benfica, se em tempos já brilharam Javier Saviola, Nico Gaitán ou Enzo Fernández, agora as estrelas albicelestes são Ángel Di María e Nicolás Otamendi. Franco, apesar de se ter convertido à religião portista, não esquece a preponderância que os dois futebolistas tiveram na concretização de uma das maiores proezas do país: a conquista do Mundial 2022, no Catar. «São dois belíssimos jogadores. A saída do Di María da seleção custou-nos muito. Nós não queríamos que isso acontecesse, mas felizmente ele saiu pela porta grande. O Nico é, e continuará a ser, uma peça fundamental para o estilo de jogo argentino. Transmite muito os valores da nossa nação, porque está sempre a tentar puxar a equipa para a frente», enalteceu. Quando o tópico é FC Porto, nomes como Lucho González ou Lisandro López saltam à memória. Agora, para além de Neheun Pérez e Tomás Pérez, Alan Varela é um dos herdeiros incumbidos por dar continuação a este prestigiante legado. A verdade é que o médio de 23 anos já é o grande responsável por alguns aficionados vestirem a camisola azul e branca, em vez do manto sagrado.{IMGFULL|DIR|1217738} «Eu gostava muito do Benfica, por culpa dos múltiplos futebolistas do meu país que já jogaram no clube. Contudo, na Argentina, eu sou adepta do Boca Juniors e sempre gostei muito do Alan Varela. Tive muita pena quando ele foi embora. Este fator, juntamente com a minha paixão pela cidade, fez com que eu mudasse de cores», confessou Camila. Franco também não se poupou nos elogios ao camisola '22' dos dragões: «O que mais me encanta no Alan é o seu domínio de bola. Para além disso, ele não se costuma esconder do jogo, vai sempre à procura de dar linha de passe. É daqueles jogadores que dá prazer em ver jogar.» Prognósticos para o tão esperado duelo Valentina, no que toca a opções futebolísticas, é exceção à regra. A jovem hoquista chegou ao treino com uma camisola de... Pablo Aimar, mágico que encantou os relvados de norte a sul de Portugal pintado de vermelho. «Eu sou adepta ferrenha do River Plate. O Aimar é um ídolo para a minha família inteira. Como tal, eu prefiro o Benfica, até mesmo por esta ligação rojiblanca [vermelho e branco, cores características dos dois emblemas]. Adoro a tradição que existe entre a equipa e a Argentina.»{IMGMED|ESQ|1270080} As duas históricas turmas estão prestes a encontrar-se pela segunda vez na temporada. Embora os portistas tenham sofrido um desaire pesado em pleno Estádio da Luz, na primeira volta do campeonato nacional, Daiana aponta para um resultado expressivo, favorável ao conjunto da casa: 3-1. Franco também mostrou plena confiança no sucesso da sua equipa na próxima partida, depositando as suas fichas num 2-1. Valentina acredita no mesmo número de golos, mas com a sorte a sorrir para o emblema da Luz:1-2. Prognósticos vão cair no esquecimento quando João Pinheiro apitar para o início do esperado duelo. Independentemente do desfecho, uma coisa é certa: não vão existir intrigas no balneário. O foco é outro.
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